segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Crítica seriada

A ironia e a repetição são marcas da obra de Nelson Leirner, que celebra 50 anos de carreira com filme e exposição

"O que eu mais queria era encontrar uma fada que fizesse as minhas obras e já mandasse tudo para as exposições". Com esse gracejo, Nelson Leirner dá início ao documentário Assim É, Se lhe Parece, que estreou neste mês e dá o pontapé nas comemorações de seus 50 anos decarreira. “A intenção era buscar não só o artista, mas esse seu espírito brincalhão e irônico”, conta Carla Gallo, diretora do filme, que mostra do início do processo criativo de Leirner (em um passeio pelo comércio popular do Saara,no Rio) até algumas de suas obras mais icônicas. Cerca de 60 delas, aliás, podem ser apreciadas na mostra do Centro Cultural Fiesp, também parte da celebração do cinquentenário.



Fazem parte da exposição os manequins de Stripencores (1967), em que o artista promove uma espécie de striptease em série, desconstruindo os vestidos por meio de zíperes, com a última boneca coberta apenas com um resquício da peça inicial. Zíperes são uma constante na obra de Leirner, que estudou engenharia têxtil nos Estados Unidos no fim dos anos 40. Também está na Fiesp a inédita Hobby, instalação feita de cartões postais, convites e outros pequenos objetos colecionados por ele durantes suas viagens nos últimos 15 anos. “É uma obra de acumulação, característica importante do trabalho dele, que aqui chega ao auge pela diversidade e quantidade de peças reunidas”, explica Agnaldo Farias, curador da mostra. Essa acumulação de objetos à primeira vista não artísticos, ao lado da apropriação de imagens conhecidas, é uma maneira de Leirner criticar a definição arbitrária do que é arte. “Chamou minha atenção a desconstrução que ele faz da imagem romântica do artista”, conta Carla.



Nascido no meio – seu pai, Isaí, fundou o MAM de São Paulo, e sua mãe, Felícia, era escultora –, Nelson Leirner, diferente de muitos de seus colegas, encara o ofício do artista como outro qualquer, não como uma benção. E por isso faz constantes críticas ao circuito. Chegou, certa vez, a enviar um porco empalhado para uma exposição para logo depois questionar sua aceitação. Em 1967, para marcar o fim do grupo que fundara com Wesley Duke Lee, organizou uma mostra em que as obras foram dadas ao público. Durante a ditadura, também não poupou o regime de suas ironias. Há, afinal, material farto acumulado para a celebração.

Centro Cultural Fiesp: Avenida Paulista, 1.313, São Paulo. Até 6 de novembro

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